A escola e a comunidade
Uma escola que se localiza na periferia da cidade e que não se deixa ficar e não se vence pela distância. Hoje, pela segunda vez este período, fomos à nossa cidade (de transportes públicos! - uma experiência a repetir na próxima segunda-feira). Cantámos no autocarro e na rua, as pessoas elogiaram a nossa música e algumas até mexeram os lábios baixinho acompanhando-nos ("Até tenho pena de sair agora" disse uma senhora simpática). Para além disso descobrimos onde todos moramos, que o autocarro leva 53 pessoas (24 sentadas e 29 de pé), que a MC nunca tinha andando de transportes públicos e que quando crescer quer ir para a antiga fábrica dos Leões estudar artes, que se houver alguma emergência o vidro do autocarro parte-se com um pequeno martelo, o R. descobriu que há pessoas que pagam em dinheiro as viagens e outras que têm cartões que se carregam com as mesmas, que se nos apertarmos cabemos 7 em cinco bancos para dar lugar a mais pessoas, que o hospital tem um heliporto para se for necessário levar algum doente para outro hospital e muito mais! “Heliporto” uma palavra nova que aprendemos.
Na volta para a escola tivemos de esperar 15 minutos pelo autocarro, no entanto até foi bastante divertido: não estava a chover mas os nossos guarda-chuvas foram o brinquedo ideal para nos fazer companhia (rodopiamo-los, fizemos uma cabana onde nos escondemos e... cantamos mais uma vez a canção das nuvens graças ao guarda chuva da M - o mais alto da foto).
Refletindo: um alerta para todos(as) os(as) educadores(as) e professores(as)...
Escolhi este momento de forma a referir a importância das saídas a outros espaços que não a escola, pois como foi possível observar e tentei descrever o melhor possível, foram várias as oportunidades de aprendizagem em que as crianças contactaram e alegraram o dia de quem se cruzava connosco, tanto nos autocarros públicos (cantando e falando sobre as coisas que viam) como na cidade (em que brincaram com os guarda-chuva dando cor à cidade) enquanto esperávamos pelo mesmo para regressarmos à nossa escola.
A aprendizagem experiencial defende a ideia de que se aprende em todos os espaços e, por isso, é também importante que os(as) educador(as)/professor(as) abram as portas da sua sala a outros espaços, olhando para a comunidade à sua volta como um recurso para a aprendizagem e enriquecedor para as suas práticas educativas. Ao realizar diversas atividades em espaços sociais, as crianças desenvolvem capacidade crítica, responsabilidade cívica, solidariedade social, etc. Assim, é importante que o espaço educativo da sala de aula ou da escola se expanda, deitando por terra a fronteira que muitas vezes separa a escola e o mundo real, o mundo social.
A escola é um lugar fundamental para que a criança aprenda a viver em sociedade. Não nos podemos esquecer que as nossas crianças não se movem apenas dentro da sala da escola, pois elas, tal como nós, estão inseridas numa comunidade e no mundo social que nos rodeia, sendo o nosso papel enquanto educadores(as)/professores(as) ajudá-las nessa integração (Santos e Cerdeira, s.d.). De acordo com Freitag (1986 citado por Santos e Cerdeira, s.d.) a escola deve ser a principal fonte de integração da criança com o meio, mostrando-lhe um conjunto de valores para que esta possa viver em sociedade de forma harmoniosa.
Abrir a escola ao meio significa, mais do que fazer algumas visitas de estudo, mobilizar e potenciar os seus recursos (humanos, físicos, geográficos, etc.) como eixos de aprendizagem e desenvolvimento abrindo a criança para o mundo e, mais especificamente, para a sociedade em si e para a cultura que as rodeia, sendo que, deste modo, maior será a riqueza de oportunidades, de vivências, de troca de ideias e de experiências. Desta forma, como educadores(as)/professores(as) devemos na nossa prática promover aprendizagens socialmente significativas para as crianças (história local, património, manifestações culturais, modos de vida) articulando os diferentes espaços que podem contribuir para isso.
A escola e os profissionais de educação devem ter consciência que têm de dar oportunidade às crianças para construírem os seus conhecimentos, atitudes e valores no mundo e na sociedade, saindo da sala e movendo-se nesses contextos, contribuindo para a formação de cidadãos críticos, éticos e participativos nos contextos que integram (Bezerra et al., 2010). Ou seja, dando-lhes uma formação para e na cidadania e promovendo uma educação mais significativa na escola.
O papel da escola deverá ser o de proporcionar uma aprendizagem que tenha um significado social, através de uma troca de conhecimentos numa interação constante com a comunidade. As actividades têm, assim, um significado funcional ao constituírem-se como algo que interessa e é útil para o grupo no seu contexto sociocultural. Numa forte ligação com a comunidade, as crianças multiplicam as suas fontes de informação, e têm oportunidades de nela intervir, na procura e resolução de problemas. (Folque, 1999, p.6)
O método mais eficaz que desenvolve estas aprendizagens nas crianças e este tipo de formação, baseia-se em abordagens experienciais em contextos reais e significativos (fora da sala e da instituição), pois estas focam-se na mobilização direta dos saberes em situações práticas e com significado para os (as) alunos(as). Ao implicarmos as crianças em situações concretas que achemos relevantes para esta temática, estamos a dar-lhes a oportunidade de serem elas próprias as protagonistas das suas próprias aprendizagens e das situações em causa (Cardona et al, 2011). Assim, ao exercermos uma prática comprometida com a conexão escola-comunidade situamos as nossas crianças como participantes da sociedade, ou seja, como cidadãos.
Bibliografia
Bezerra, Z. F., Sena, F. A., Dantas, O. M, Cavalcante, A. R., & Nakayama, L. (2010) The school and the comumnity: reflections about a necessary integration. Educar, Curitiba, nº 37, p. 279-291
Cardona, M.J. (coord.) et al (2011). Guião de educação: género e cidadania. 1º ciclo do ensino básico. Lisboa: Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género.
Folque, A. (1999) A influência de Vigotsky no modelo curricular do Movimento da Escola Moderna para a educação pré-escolar. Escola Moderna, Lisboa, nº 5, 5º série, p. 5-12